3 de setembro de 2011

Conto: O Poço

A lua, normalmente tão pacifica e silenciosa que junto às estrelas em seu brilho imortal serviram de inspiração a poetas e escritores por séculos e séculos. O astro de fases a inspirar igualmente marés e alguns dizem até o humor das pessoas, surgia redondo ao límpido céu apenas tendo em companhia as demais estrelas intocadas pelo ser humano, se não por seu imaginário.
Diante desta visão, entretanto, um olhar, este triste refletia sua imagem em sua íris como senti-se algum pesar, exalando uma dor interna mais que externa, mas que pareceu ser perder diante daquele lugar tento apenas como lâmpada à própria lua.

O galo canta. Mais um rotineiro dia começa num lugar tranqüilo do interior do Brasil cujos primeiros raios solares cortam pouco a pouco a fina nevoa da madrugada e cujo orvalho escorre pelas pontas das folhas após mais uma fria noite. O sol pouco a pouco cortou aquele lugar sem qualquer discriminação se não pelas sombras projetadas por objetos que se encontravam à frente do outro, mas que mesmo assim expressavam suas verdadeiras formas. O mesmo sol para todos, tal como o solo, tal como o ar, tal como o mundo, cada ser do menor ao maior, dos conhecidos ou não.
Logo os primeiros pássaros cantam e numa revoada iniciam uma revoada como chamariz do começo do dia. José Alberto, acorda por um empurrão de mão sobre seu ombro de seu pai, o seu Silva, para ordenhar as vacas e prepararem o café da manhã.
O rapaz mulato abre seus olhos como se tivesse seus sonhos interrompidos por tal, e se levanta de súbito trocando suas roupas e seguindo ao exterior da humilde casa a revelar um belo e extenso pasto e curral com cavalos e galinhas apenas entrecortados pelo raiar do dia. Um vento deliciosamente fresco e límpido parecia purificar seus pulmões e limpar sua mente mesmo que em sua rotina determinada pelo nascer do sol, dia após dia, e seus sonhos de sair daquele local e poder investir em si próprio eram parcialmente esquecidos mediante ao clima ameno e tranqüilo do lugar.
Após ordenhar as vacas, e realizarem seu desjejum, seu Silva seguiu a capinar e ir para lavoura plantar e colher os frutos do solo plantados sob o sol e regados com a doce água. Não havia grandes problemas, se não de eventuais roedores a corroer as plantações ou micos roubarem os frutos, onde mordidos davam espaço para que pássaros também os atacassem. Porém, nada que um bom cão de guarda não protegesse. O canino, cujos pelos denunciavam o bom trato que recebido com afano tanto pelo Silva quando seu filho José explicava o porque dele obedecer tão cordialmente os meros comandos de voz deles.
O sol agora estava mais alto, e sobre as cabeças de crianças que saiam para escola parecia quase castigar, gritos e risos espontâneos eram soados, mas até quando um grupo de jovens surgindo a cavalo.
Temidos pelas mesmas crianças elas se calavam e corriam, por temer estes garotos tão estúpidos que vestindo suas roupas pobres e sobre cavalos mal alimentados e com feridas de açoites constantes desde a lavoura de onde pertenciam era um prenúncio de baderna. Conhecidos por pequenos roubos no local, por maltratar alguns jovens e agarrar as meninas, chegando a estuprar uma destas, eles seguiam praticamente impunes por um deles ser filho de um poderoso senhor de engenho local. Não era o mesmo o de Silva do qual mesmo sendo um escravo dele, após o fim da escravatura este concedeu cordialmente acomodações tranqüilas e seguras tal como seu tempo para poder passear, descansar e fazer o que quisesse desde que não infringisse a lei. Não trabalhando apenas em troca de comida e cama, mas sim também obtendo um percentual nos lucros das colheitas. O homem era nobre e côrtes, e vendo que assim como grandes partes dos ex-escravos simplesmente vagariam pelas ruas resolveu lhe oferecer tal oportunidade do qual mesmo antes se demonstrou um homem justo com as suas então "posses". Foi assim que José Alberto naquele dia recebeu de seu pai uma moeda, um dobrão, após os lucros de a colheita terem sido tão bons e lhe rendendo algo em troca e por isso até mesmo sobrando o excedente para seu pai este concedeu ao seu filho por sempre auxilia-lo nos afazeres.
Mas aquele outro homem era vil e impiedoso, temido, não respeitado, espancador dos seus escravos alguns diziam até mesmo que eventualmente o fazia por prazer assim como se "divertir" com as negras da senzala. Os seus ex-escravos ao saírem desta condição rumaram para longe como se nunca mais quisessem ver homem tão mal assim, que ao contrário do senhor de engenho do Silva que mesmo tendo um semblante sério e aparentemente rude, este era um homem cuja aparência enganava facilmente, e seu filho não era diferente, junto alguns outros da vizinhança eram literalmente o terror do local.
Foi então que José Alberto passeando tranqüilo com seu cão que livremente andava pelas calçadas enquanto seu eleito dono cumprimentava alguns ex-escravos e outros comerciantes, quando ele viu Raquel, uma jovem loira que trabalhava com a mãe num bar. Ao passar próximo, sempre ficava desconcertado com seu jeito tão feminino e carinhoso. A contemplando ao longe, a viu mexer eu seus dourados cabelos enquanto embrulhava algo para sua mãe Joaquina. O lugar costumava apresentar alguns que se arriscavam a cantar como a própria e assim passou a ser ponto de encontro daqueles cujo gosto cultural costumava ser mais elevado. Seguiu então ele quando virou a esquina a se deparar com estes maus jovens em suas montarias e do qual ao vê-lo sem pestanejar saltaram de seus cavalos a rodeá-lo em tom de ameaça. Rapidamente um destes começou o empurrar dizendo:

- O negrinho, porque vois me cê andas por aqui? Deves pagar taxa para tal!

Entretanto, ele sem nada dizer buscou se esquivar deste, que vendo não ter lhe dado atenção apontou para seu cachorro o pegando pelas costas, mas que pela agressividade este rosnou e o atacou.

- Largue meu cão! - disse José Alberto.
- Seu cachorro será nosso pagamento, teremos churrasco hoje! - respondeu um destes rindo.

Mas ao ver isto José Alberto pegou um pedaço de madeira e avançou sobre este que estava com seu cão, quando um som galopante os interrompeu a contemplarem o senhor de engenho do pai Silva surgir num cavalo garboso e emplumado com seus pêlos brilhantes a demonstrar os bons tratos. Este homem então retirou das costas uma garrachuda, uma daquelas armas com que costumavam caçar alguns invasores em suas plantações, e apontando para estes disse:

- Filho de Nicolau, volte para seu engenho com sua turma se não quiser problema comigo! Largue este e seu cão!

Mesmo que procurasse se desviar daqueles onde percebendo sua presença procurava outro lugar a passar, pois sabia ele que certamente no mínimo lhe lançariam palavras mal intencionadas a provoca-lo, às vezes o confronto parecia quase inevitável. Eram tais os responsáveis por ele se fortalecer mais em seus sonhos de sair daquele lugar a cidade grande, onde vislumbrava um dia abrir uma loja ou bar, mesmo que obviamente a discriminação fosse enorme por ser ex-escravo.
Ao se dirigir para sua casa lembrou-se uma antiga lenda do qual um poço não muito longe de onde morava concederia desejos aos que lhe jogassem moedas, seus pedidos feitos no silêncio de seus corações lhes seriam concedidos, e onde quanto maior o valor a moeda a ser ofertada mais rápido se concederia tal desejo. José Alberto lembrou-se então entristecido de seu íntimo desejo naquele momento, onde ao considerar que tal jovem lhe era distante e seus sentimentos jamais lhe alcançaria, desgostoso ao surgir, vislumbrou o poço solitário ao horizonte e cercado por uma vegetação rasteira onde ao entardecer a luz dourada irradiou um tom de estranheza que lhe concedia quase vida. Suas pedras rudimentares e caídas e a sorte para o balde apodrecido por cupim e assim sem como buscar água de seu interior.
Se aproximou ele, ao tocar as pedras de granito cujo muro parcialmente desfeito revelava que era largo e tão profundo que seus olhos quase não podiam contemplar seu fundo, mas o suficiente para se perceber que ao seu fim, não havia mais tanta água, mas com a pouca luz que entrava do sol refletia brilhos de moedas que por décadas lá foram jogadas por seus donos em busca de terem seus pedidos realizados. Retirou ele o dobrão de seu bolso, e o contemplando triste limpou-o com suas mãos grossas do constante trabalho pesado a limpando e em seguida jogando-a no fundo onde esta dando voltas seu estalido ao chocar-se contra as paredes intermetido por seu brilho refletido e finalizado pelo som do fundo lhe fez pensar em seu íntimo seu desejo, e se deu por cumprido.
Seguiu então triste para sua casa, mas depositando junto com sua fé a moeda naquele poço a acreditar que não foi em vão.
A noite já havia caído quando José Alberto seguiu para seu humilde lar revelando que os primeiros postes acessos com óleo feito e extraído de baleia eram acesos um a um por um homem que utilizando-se de um longo cabo para coloca-lo e acende-lo repetia a tarefa por toda a rua até que houvesse luzes razoavelmente suficientes para ilumina-la. Não à toa nos anos posteriores tal fora proibido, a provocar matança entre os enormes graciosos cachalotes e graças ao advento da eletricidade e a lâmpada por um certo Thomas Edison.
Porém, havia um certo charme nas luzes oscilantes não por sua origem tenebrosa, mas por dar tons e contornos a estas ruas feitas de pedras colocadas uma a uma a algo estranhamente nostálgico que remotava os lugares históricos de Portugal, fazendo estes que ali estavam, conflitar suas memórias num híbrido da Europa com os trópicos a gerar uma pequena cidade quase surreal, numa síntese cultural e natural de ex-escravos e outros povos como uma sutil influência dos espanhóis em suas divisões da colônia brasilis, até serem expulsos "sutilmente" pelos portugueses.
Com suas mãos nos bolsos e o olhar baixo seguiu ele até passar novamente em frente ao bar onde Raquel trabalhava lançando-lhe um sorrateiro olhar na esperança de reconhecer seus contornos sutis e suaves, a lá estava a jovem do qual uma silhueta dourada se revelava com as luzes de velas acessas, tal como lamparinas, enquanto uma mulher sentada num banco tocava e cantava num violão diante de uma pequena platéia de comerciantes. Porém, Raquel lançou um olhar de encontro ao de José Alberto desta vez, como se orientado ao acaso ou uma força que a lhe compeliu olha-la, que o reconhecendo sorriu cordialmente e lhe acenou o fazendo retribuir meio encabulado, mas se aproximando com tal receptividade do qual se seguiu também pela senhora sua mãe que surgiu ao seu lado.
Simpatia parecia ser algo herdado geneticamente uma vez que os olhares das duas demonstravam não somente sinceridade, mas quase ingenuidade num lugar que sem dúvidas tal ainda era uma constante. Logo, ele se viu conversando com estas que para sua surpresa lhe trataram muito cordialmente e com educação chegando até mesmo lhe oferecer um cafezinho "por conta da casa". Este surpreso com tal oferta aceitou, mas com certo receio, afinal não era sempre que as pessoas costumavam ser tão generosas assim, quanto mais com um filho de ex-escravo, e como nascido na senzala, mesmo que tão logo alguns olhares preconceituosos surgiram por parte da platéia antes concentrada na mulher, não demorou para ele se ver conversando com a bela Raquel a sós, trocando descontraídos sorrisos.
Foi então que resolveu ele contar-lhe sobre a história do poço, quando a jovem revelando suas angústias num momento, este disse que tal poderia resolver seus problemas.

- Dizem, que os primeiros portugueses que aqui chegaram, encontraram tal por acaso, como uma caverna cujo lençol freático se estendo por longos quilômetros e seus entalhes se perdem por suas rochas e curvas escuras. Entretanto, o que mais chamou atenção destes é que fonte tinha uma capacidade sobrenatural de realizar alguns dos mais íntimos desejos canalizados apenas por uma moeda entre você e o poço. - disse José Alberto de modo entusiástico como se tal fosse uma quase ciência exata - Meu pai diz que a abolição da escravatura só ocorrera graças ao pedido duma escrava que amargura por perder o esposo pelo Senhor Nicolau teria se doado ao poço em troca de tal. Seu corpo nunca mais fora encontrado, se não um bilhete por ela deixada, e no mês seguinte aquela princesa Izabel tal aboliu!
- Não conhecia tal história - disse Raquel - Mas realmente me impressionou. Você pode me levar até lá?
- Claro que sim, só basta dizer-me quando e aqui estarei a conduzi-la. - respondeu com um sorriso cordial José Alberto mesmo que sem pensar.

Tão logo, ela havia dito para que assim a levasse no dia seguinte ao entardecer, uma vez que não era a tão longa distância assim. José Alberto parecia prosa com tal avanço e rapidamente viu neste mesmo fato como uma prova do poder positivo de tal poço. Naquele dia, recostou ele sua cabeça em sua cama de palha feliz e com um sorriso dormiu como se tivesse tido sonhos com ela diante de um campo cujo gramado rasteiro parecia ritmar com eles dançando.
No dia seguinte, seu pai nem ao menos teve trabalho de acorda-lo, pois ao levantar já estava de pé sorridente e como se tivesse esquecido todos os problemas. Com uma disposição que levantou suspeita do próprio seguiu este a fazer suas tarefas alegre e rapidamente como se quisesse logo ser liberado. Mesmo que José Alberto não estudasse, afinal tal escola era apenas para os ricos meninos de comerciantes ou de senhores de engenho, como de costume foi ele até o comércio trocar mercadorias para seu senhor de engenho tal como comprar alimentos para o almoço. Contava as horas, José Alberto, para poder encontrar os belos olhos de Raquel e conduzi-la até o local, e tão pouco parecia hoje haver sinal daqueles perversos arruaceiros local.
Após comer com o mesmo e já quase irritante sorriso em seu rosto como se apenas seu corpo lá estivesse o próprio senhor de engenho - que eventualmente com eles se sentava para comer e contar histórias de sua terra natal, tal como suas viagens à Inglaterra e outros países - resolveu arriscar palavras ao jovem.

- Vejo a paixão brilhar em seus olhos meu jovem - disse ele cordialmente - quem foi a donzela a lhe roubar seu coração?
- Meu senhor, há muitos mistérios em nossos corações para que eu mesmo entenda. - respondeu ele buscando despistar a indagação feita por este.

Apesar de terem conversado durante algum tempo, na realidade o jovem mal esperava para se retirar do local não sem antes acabar por pedir as horas ao seu agora gentil e cordial patrão o fazendo retirar seu relógio de bolso e lhe informar as horas. Saindo do local, cujo aroma sempre agradável era a ele um quase sinônimo de acolhimento mesmo que a casa do patrão tal como seus belos cavalos fossem obviamente muito melhor que as condições que viviam os seus, como pouco mais que caseiros.
Seguiu então ele quase correndo pelas ruas após molhar seus cabelos ruins e tentar ajeita-lo, arrumando sua roupa mais limpa que tinha e seguindo para Raquel como se o maior dia de sua vida a ponto dele esquecer seus outros sonhos. Ao chegar a jovem estava sentada num dos bancos do bar de frente a sua mãe atrás do balcão a conversar quando ele se aproximou retirando seu chapéu ao entrar e lhes dando boa tarde, meio que olhando para baixo por obviamente ver que alguns fregueses lhe notaram. Rapidamente, Raquel se despediu de sua mãe lhe dando um beijo e pedindo-lhe benção e seguiram eles então pela curta, mas agradável trilha até o poço. Foram eles rindo e conversando naturalmente até quando um ruído se ouviu do meio do mato os chamando atenção.
Pensado eles ser uma onça José Alberto pegou uma grande pedra próxima, entretanto, o animal que de lá saiu era muito mais astuto e perigosamente cruel do qual tal, era o filho de Nicolau. O jovem cuja uma cárie crescia no canto superior esquerdo exposto quando ele abria seu sorriso malicioso, lançou seu olhar sobre o corpo da jovem lambendo os lábios em seguida, como se ela fosse um prato de refeição servido a mesa. Em seguida saíram mais dois destes de trás duma moita de mato o que quer que fizessem lá. Rapidamente o filho de Nicolau, Guilherme Nicolau empurrou José Alberto lhe falando que um homem como ele não poderia ter uma mulher como Raquel, antes deveriam ser castrados até desaparecerem e serem extinto do local. Tal irritou profundamente Raquel que dizendo-lhe para cuidar de si próprio, porém, não lhe respondeu a demonstrar porque ele seria merecedor dela e ele não.

- Venha aqui, sua ninfeta de cabaré, vamos fazer uma farrinha ali atrás. - disse Guilherme colocando suas mãos em seus braços e em seguida passando-lhe em seus seios sem que ela consentisse.

Vendo tal, José Alberto sentiu como um frio lhe subisse a cabeça, na realidade a esquenta-lo fazendo com que ele atingisse sua cabeça com a pedra que ele tinha empurrando os dois que lhe seguravam. Tal pedra lhe foi certeira o fazendo cair ensangüentado ao chão enquanto Raquel ao se soltar caiu de costas sentada, chorando e revelando agora seu vestido repleto de lama assim como em suas mãos.

- Não, não! - disse ela colocando suas mãos sujas de lama no rosto.

Os dois jovens ao verem isso rapidamente se acovardaram e correndo fugiram para o meio do mato, apenas os fazendo esvoaçar dum lado a outro, até sumirem.
Assustados ao verem o seu corpo caído, eles correram viram que Guilherme havia jazido ali imóvel fazendo de sua cabeça uma quase fonte de sangue, mas dando lugar a sua brutalidade vulgar ao empalidecer vazio daquela carcaça revelando o quão todos nada são sem nossas almas. Saíram eles de lá, enquanto Raquel aos prantos fora lá explicar a sua mãe o que ocorreu. Porém, antes deles já estavam os dois jovens que junto à polícia tal relatou conforme seu parecer e não demorando chegar os olhos destes se viraram contra ele a indagar, quando o policial lhe perguntou quase afirmando.

- Então vós me cê me diga, aguardando a jovem e matando seu defensor? Maldito escravo, são como os ratos infectores!

Tão logo, um pequeno clamor se levantou no local graças aos dois jovens que de machões se passaram por vítima, a heróis sobreviventes mesmo que Raquel buscasse dizer o mal entendido de que apenas ele tentou a defender. Rapidamente acabaram por recuar no testemunho quando sua mãe lhe obrigou. Porém, o policial lhe puxando por trás pela roupa lhe disse para leva-lo junto aos homens até o local do crime não sem antes ser esbofeteado como se fosse um réu confesso.
Já caia a noite quando estes homens com tochas acessas a fogo irrompiam a trilha como se fosse uma arcaica inquisição. Levando-o amarrado com uma corda ao pescoço, chegando lá seu corpo não mais estava, fazendo este esbofetear ainda mais o corpo do jovem José.

- Diga onde está o corpo de Guilherme seu verme negro!

Sem saber mais o que responder, dos demais homens se juntaram à volta deste e lhe cercando a ponta pés e socos, mas José Alberto rapidamente se soltou daqueles animais incontroláveis correndo em meio ao mato mesmo com as mãos amarradas tento apenas a lua a iluminar seus caminhos se é que havia algum. Ele não era um jovem muito grande ou forte, mas diante de tal subtraiu forças de onde não tinha e com todas estas seguiu não sem antes meter-lhe ainda as mãos no bolso de um destes a retirar suas moedas.
Foi quanto então se lembrou ele do poço, e seguindo em direção a tal se viu apenas ele e este tendo por trilha ao poço. Soltou-se ele, e começou a chorar diante do poço se ajoelhando e começou a falar:

- Porque não está mais dando certo? Porque este maldito poço me traiu!?

Porém, ele desesperado mesmo após aquele acesso de ódio retirou de seu bolso as moedas do espancador e as olhando arremessou ao fundo do poço escutando apenas o cintilar sonoro de seu metal a bater em suas paredes.

- Porque? Porque não me respondes? - indagou ele como se o poço fosse um deus. - Me perdoe, mas realize meu desejo o devolva minhas moedas a ti depositadas com minha alma!

Curvou-se ele um pouco mais a escutar o silêncio na noite e por uns longos minutos assim ficou, até que se levantando novamente aos choros por sentir-se traído e perseguido chutou parte do muro do poço o fazendo balançar.

- Maldito poço, devolva minhas moedas!

Curvando-se então ele sobre o muro para ver onde estas caíram ele se inclinou, porém o muro bambo começando a rachar desabou. Com pedras e tudo caiu José Alberto por suas estreitas paredes até tudo se escurecer.
Quando recobrou sua consciência sentiu as dores por todo seu corpo, e viu-se com fraturas por todo ele, e viu ele estar em seu fundo sendo iluminado apenas por uma fresta de onde a lua exatamente sobre ele revelou todo o lugar. Milhares de moedas além cujos brilhos cintilavam sem parar como se fossem convites a uma dança, virou ele o rosto vendo todo local e como a luz da lua por ele se dispersava, moedas de ouro, moedas de prata, dobrões, réis fossem eles portugueses ou espanhóis, José Alberto estava cercado de riquezas depositadas por gerações e gerações como um grande banco natural. Arrastando-se ele sobre a pedra empoçada com seu sangue, não demorou a ver o corpo da tida escrava que lá jazia, seu esqueleto segurando numa das mãos um dobrão de prata. Impressionado ele ficou, mas cansado e perdendo as forças recostou sua cabeça pesaroso de sua situação, pois aquele poço lhe realizou seu desejo do fundo do coração, mas não como uma benção, mas maldição, que era simplesmente morrer rico.
Temeu ele com o fundo da alma por seu próprio coração, e chorando levantou os braços sabendo que não devemos apenas saber pedir, mas sim como pedir.

- Maldito poço. Vou morrer rico...

2011 Gerson Machado de Avillez® - Todos Direitos Reservados

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