1 de janeiro de 2011

Inception e o vendedor de placebos

Inception, cujo título melhor traduz a proposta do filme ao invés de 'A Origem', é um filme eficaz em várias camadas assim como sonho proposto neste,e por isso mesmo como o próprio se diz perigoso ao inserir idéias que crescem perigosamente. Mesmo que não tão bom quanto pensei estabelece algumas convenções próprias claramente influenciados em filmes como 'Matrix' e mesmo 'A Cela' ou 'Identidade' que se tornam eficientes a conduzir o espectador por uma trama complexa para não se dizer por vezes confusa. A confusão aqui, porém, é deliberada, conforme a própria proposta dos sonhos labirínticos que deixam margens para todos os tipos de interpretações somente orientadas pelos tutoriais de convecções próprias. Com ótimo visual pontuado por uma excelente trilha sonora e efeitos visuais - que por vezes assim como matrix parece competirem ao lado dos aspectos filosóficos do mesmo -, o filme nos apresenta a Cobb, um sujeito que trabalha com invasões de mentes que após um trabalho não tão bom conhece um empresário que propõe o oposto, inserir uma idéia. Aqui é onde começa a confusão. Cobb (Leonardo Di Caprio) conhece Ariadne (interpretada por Ellen Page) para ser sua nova arquiteta de sonhos a fim de penetrar na mente de um herdeiro e plantar a semente de uma idéia. Os argumentos mediante as próprias regras compostas pelos sonhos passam a indicar e dar pistas então, de que a própria realidade pode não a ser, e mesmo o parâmetro do pião supostamente criado pela mulher de Cobb cujas memórias encontram-se presas na mente dele podem falhar, afinal no mundo real o pião cai pela gravidade, mas porque não cair em sonho, se sonhar que o pião caí assim como os próprios?
É fácil deduzir isto pois Christopher Nolan é um ilusionista nato - o próprio cinema é ilusão -, basta ver os filmes anteriores dele para entender o que falo - 'Batman Begins', 'Cavalheiro das Trevas' e o 'Grande Truque' este último dando todas as pistas que podem ser vistas na prática neste filme. E como eu entendo de ilusionismo gostando de eveltualmente pratica-lo, não é meu forte cair nessa, assim como ele detestaria cair na minha. A própria imagem inicial que remete ao final (Spolier, aos que não viram) de modo espelhado como proposto pela Aridne em vários momentos, como um quase loop que levam a propostas de que Cobb pode estar preso num sonho subconsciente daqueles de anos, isto é, se for o sonho dele numa tentativa de buscar um modo de sair dele, afinal os próprios ensinam a construir sonhos de modos paradoxais autocompletativos o que leva a supor que todo o filme pode ser um sonho, explicando o porque do pião não cair no final como uma referência ao próprio Cobb – talvez seja ele o mero pião. A outra pista é dada pelo homem velho mostrada nas mesmas cenas iniciais e finais do mesmo, o empresário chinês que levam a hipoteses de que na verdade é ele quem tenta realizar a inserção de algum modo em Cobb usando de personagens - reais ou não - como Aridne cujo nome é uma referência ao fio de aridane utilizado para orientar pessoas num labirínto segundo o mito original o que conduz Cobb como um pião a girar nas mãos dele, mesmo que por vezes pareça que o próprio ficou preso, na sua carapuça. A segunda pista é dada quando vemos a perseguição em que misteriosamente algumas pessoas brigam entre si, sinal mostrado de que estão interferindo no sonho assim como a passagem estreita de Cobb num beco que soa praticamente sem lógica a um mundo real.
Tal é perfeitamente plausível em vista que Aridne no momento que é introduzida num workshop poderia estar enganado era o próprio fazendo com que as mudanças na realidade ocorressem por camadas dando a impressão de serem mais de três nivéis, como uma tentativa de conduzi-lo a sair daquele mundo – ou algo mais -, bastando ver como Cobb o tempo todo no workshop a segue, assim como o trem fora dos trilhos - ele sem o fio de Aridne? - e o trem indo em direção a cabeça da mulher dele, Mal, que poderia ser uma personificação dual do próprio, seu lado mau. Vendo-se deste modo o filme pode ser nada mais que uma versão mais sofisticada de 'Identidade'.
Resumindo: somos nós conduzidos como patinhos ao abismo neste filme, como se tivessémos com o saco na cabeça sem saber para onde vamos. Mas são estas as vantagens de assistir um filme críticamente ativo. Neste aspecto o filme é quase legal, mas não caio não.
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