11 de novembro de 2010

Sob O Sol (Crossovers Tales)

Estados Unidos do Brasil, Ilha Grande, Século XVIII
Uma grande caravela se aproxima cortando as calmas águas do lado diante do continente de Ilha Grande, seu vulto rapidamente faz algumas crianças filhas de escravos correrem por uma das trilhas acompanhando a naus que quase em silêncio com suas velas cortam aquele pedaço do mar sendo anunciada pelos gritos destas.
Nisto num porto pequeno próximo ao Abraão, a vila central daquela ilha, sai dois homens vestindo roupas clássicas da Europa com aquelas perucas engraçadas de cabelos enrolados tendo a seu encalço rudimentares rifles de carga onde a pólvora é colocada manualmente junto à bala que é redonda. Lentamente a naus se aproxima tendo seus reflexos ondulantes sob a superfície semiparada do mar naquele lado da ilha enquanto os tripulantes gritando sobem as velas as enrolado e logo um homem imponente a sua frente posa demonstrando-se ser o capitão.
A grande embarcação ancora e logo escravos e alguns tripulantes começam a carregar o material, nisto, porém, um destes, o imediato observa um dos homens negros carregando o equipamento e quando passa em sua frente o sujeito estica a bota o fazendo tropeçar e cair fazendo a caixa com porcelana ao cair se abrir quebrando-as em grande parte. Rapidamente um grito se ouve.

- Maldito negrinho! Por isso sua raça nasceu para servir, não sabe nem ao menos carregar uma caixa!

O Sujeito levantou um bastão para surrar o pobre homem, mas ao invés disto foi impedido pelo capitão que falou - Basta, imediato Carlos! Vois me cê colocou o pé para ele tropeçar e cair.
O imediato sendo obviamente um carreirista presunçoso e repleto de si e preconceito parecia disposto a se engrandecer no "dever" a qualquer custo para se promover, nem que para isto induzindo ao erro, escravos e os próprios tripulantes diante das autoridades daquele lugar.
Porém, fora mercearias para algumas autoridades que lá moravam o navio carregava presos, e não somente escravos, mas homens que condenados seguiram aquela colônia tropical do Atlântico a viverem cumprindo sua pena. Tão logo dois homens saíram da embarcarão com algemas grossas de correntes que ao sair do interior do navio claramente ficaram com a visão cerrada pelo forte sol tropical, foram orientados até uma pequena edificação repleta de celas onde era a quarentena de pessoas como eles vindo do exterior, e lá ficaram.

- Joaquim! - gritou um deles de dentro da cela ao lado - Vois me cê ouviu o que eles falaram?
- Sim, maldita colônia penal! Este lugar é um reduto de presos e escravos, sem falar-se nos primitivos nativos. Mas creio que Carlos deve nos visitar a noite.

Com o cair da noite, mosquitos infestaram aquele buraco quente e úmido que era a quarentena onde mesmo os negros reclamavam em seu idioma natural. Mas os mosquitos logo sumiram dando lugar apenas ao ruído de sapos e grilos da noite cuja escuridão apenas era interrompida pelas luzes tremulas de tochas de fogo no lado exterior onde dois guardas passavam de um lado a outro. Logo, a voz de um homem soou chamando os guardas e estes se retiraram. Rapidamente surgiu diante da grade, Carlos, o capitão da nau.

- Joaquim! Vois me cê e Manuel estão ouvindo?
- Sim, cá estamos no escuro!
- Tenho as chaves, mas digo-vos que tens apenas poucos minutos!

O capitão jogou as chaves fazendo o um rápido barulho quando rapidamente Joaquim se esticou e se contorceu pelas grades com seu braço do lado de fora para pegá-la diante da tênue luz do exterior.

- Logo a lua sai, e a trilha ficará clara como a do entardecer, sigam pela trilha central a sudoeste onde uma embarcação os estará esperando!

Carlos rapidamente olhando para o lado diante das grades ouviu vozes dos guardas se aproximando e falou - vou atrasa-los, mas não demorem!
Os dois sujeitos conseguiram abrir a porta da cela fazendo aquele típico ruído quando aquele escravo que havia tropeçado surgiu numa outra cela sussurrando em seu idioma com as mãos para fora pedindo para soltá-lo também, mas o ignorando por completo.
Os dois abriram a porta principal e olhando para os lados de um viu Carlos ao fim de uma trilha falando com os guardas enquanto eles riam com algo que ele dizia.
Os dois cruzaram a trilha agachados para dentro do mato do outro lado quando Joaquim tirou uma bússola do bolso, e olhando com certa dificuldade mediante o escuro da noite viu que o noroeste era para aquela direção.
Seguiram eles com certa dificuldade até acharem uma trilha que percorreram com mais facilidade com o sair da lua por de trás de um morro cortando os coqueiros mediante suas silhuetas.
Porém, a noite não estava tão firme quanto pensavam, ao horizonte relâmpagos como pequenos clarões pareciam denunciar uma tempestade tropical que se aproximava e tão logo ventos fortes passaram a confirmar suas más expectativas naquele local cujo clima era completamente inédito aqueles homens pálidos por poucas vezes pegarem sol.
Por longo período caminharam, sucedendo-se por horas apenas parado quando o ruído de águas anunciavam uma nascente onde poderiam beber e descansar um pouco, quando um cavalo cortou a trilha a sua frente tendo um homem montado e em seguida uma carroça carregando alguns escravos enquanto a voz de seu senhor praguejava coisas para estes dizendo "vou lhe castrar seu negrinho desgraçado!"
Os dois atravessaram o lugar após passar tal carruagem, mas tão logo a luz da lua se dispersou pelas nuvens que passaram a cobrir o céu estrelado, quando as primeiras gotas de água irromperam o céu demonstrando que teriam eles dificuldades maiores. A tal altura não sabiam eles que horas eram, se não de que o lugar passou a se tornar rapidamente um atoleiro de mato e lama onde Joaquim num movimento em falso tropeço escorregando e batendo a bússola sobre a pedra a quebrando. Como iriam se orientar agora com o céu nublado e sem a bússola? Antes aqueles homens que pareciam ter boas noções de orientação sabiam os caminhos que as estrelas indicavam quando estas ficavam visíveis, o que não era o caso.
Os dois se perderam, e não demoraram para acordarem no dia seguinte com o rosto na lama sendo devorados por insetos como se estivessem mortos, mas Joaquim num súbito pulo se sacudiu e gritando retirou os insetos. Os dois agora famintos tentavam se localizar e subindo caminhando por um período chegaram a uma enorme pra deserta donde subindo um monte tentavam visualizar algum traço da embarcação que lhes aguardavam, mas eles estavam perdidos na mata virgem, sem terem como se orientar...
No fim da tarde Manuel sentou-se numa pedra e resmungando notou algo no chão o pegou, uma espécie de amuleto com dentes e penas.

- Veja Joaquim, deve ser dos primitivos locais! - falou o homem.

Mas tão logo notaram eles estar num lugar que aparentemente tinha mais, muito mais, vasos e ferramentas primitivas parcialmente enterradas que conforme eles iam mexendo e escavando encontraram um esqueleto. Este com seu crânio partido tendo em sua meio uma espécie de machadinha pareciam contar a história de como aquele nativo morreu. Mas como bons comerciantes cujos contatos eram mesmo piratas procuravam achar algo de valor o que para eles aquilo pouco tinha. Mas tão logo novamente choveu torrencialmente e com o cair da noite a fome parecia não deixa-los dormir com seus olhos arregalados diante do céu agora límpido sob o luar e ruído de seres que eles jamais ouviram antes. Mas algo parecia se mover em meio ao mato grande o bastante para lhes chamar atenção de que fosse talvez um homem. Se levantaram então, mas apesar de verem o mato se mover, nada viram se não algo como uma respiração forte que se intensificava e como ruidosa de um asmático parecia estar a seu entorno os deixando nervosos não bastando à fome e o roncar de seus estômagos. A fogueira que eles fizeram parecia dançar de acordo com o movimento que aquele ser faziam a seu entorno como se fizesse vento, mas sem ventar. Na verdade todo ruído da floresta cessou tão repentinamente quanto o vento que antes soprava de modo constante como se todos as formas de vida que caminhassem, mesmo os insetos tivessem fugido de algo, quando repentinamente com num só golpe invisível Manuel fosse jogado em direção a uma moita donde foi arrastado deixando um rastro visível da vegetação que se mexia ruidosamente sob os gritos de Joaquim. - Manuel! Manuel!
O sujeito pegou uma das machadinhas e segurando o estranho amuleto correu não menos ofegante pelo matagal de um quase mangue quando se viu repentinamente com água até a cintura. Caminhou ele tão nervoso, que seus olhos pareciam saltar esbranquiçadamente mais que sua própria pele acinzentada de modo agravado pelo cansaço e fome. Um movimento ao seu lado e ele atacou uma folha a um golpe da machadinha que havia matado o corpo do nativo, mas nada era.
Joaquim então se virou repentinamente para frente quando se deparou com Manuel ensangüentado em sua direção balbuciando algo e caindo na água morto. Quando ele viu aqui, se desesperou de tal modo que correndo de volta pela mata saiu do mangue a areia da praia correndo quando tropeçou numa pedra e caiu, quando olhou para trás teve uma visão de algo bizarro que jamais esqueceria se não fosse por um fato, ele morrer num só grito unicoro a se perder em meio às ondas do mar que quebravam naquela praia.

Dias atuais
A barca saiu do cais de Angra dos Reis repleto em sua maioria por jovens aventureiros a procura de um bom programa de fim de semana de modo saudável enquanto alternavam trilhas e as manhãs nas lindas praias daquele pequeno paraíso natural com o festival noturno que ocorria no Abraão, alguns destes fotografando sorridentemente dentro da barca com suas bagagens normalmente grandes mochilas de camping ficavam descontraídos mesmo aqueles turistas com sotaque do sul e mesmo alguns falando o castelhano fluente sem quase nenhuma palavra em português tirando-se as semelhantes.
Entre estes jovens estavam duas belas jovens, a loira Alinne Fraga e a morena Clarice. Advogada esta última fazia tempos que não saia de férias longe dos crimes cabulosos que participava dos julgamentos na promotoria do Rio de Janeiro, que sob o convite de Alinne resolveram tirar um período daquela vil sociedade que se tornavam especialmente mediante seu trabalho.
Alinne por sua vez havia terminado um longo namoro de três anos com um esportista e parecia mais interessa em curtir sem qualquer preocupação um fim de semana de praia e do festival que lá ocorria.
Do outro lado dois jovens vestindo coletes e um destes um chapéu engraçado tipo de caçador africano observavam elas atentamente, quando um destes falou - Vamos lá, cara! Nos demos uma folga, temos nossas pesquisas, mas podemos curtir um pouco também.

- Você quer que chegue numa e você na outra e novamente fale coisas legais de você? - perguntou o outro.
- Temos trabalhado muito, merecemos um densaço pra nós mesmos, e paquerar nunca faz mal!
- Da outra vez se tornou um monologo onde você fez cantadas que fariam mesmo um pedreiro rir.
- Bebi um pouco além de estar bastante deprimido caso não lembre disto também. Mas você ficou com a aquela garota só por minha causa, porque eu fiz marketing de você! Ou seja, você me deve essa!

O colega ficou meio emburrado cruzando os braços e bufou quando ele prosseguiu.

- Hey cara, elas estão olhando pra nós! Vamos nessa que juro um papo tipo tarantino!
- Você acha que elas querem saber de papos sobre os significados de A like a virgin? Lembre-se para ela somos estranhos!
- A não ser que nos apresentemos! - completou o sujeito convencendo seu colega.

Os dois se aproximaram meio sem jeito, mas sendo simpáticas logo estas com um sorriso falou que seria legal vê-los no festival a noite.

- Meu nome é Rogério Silveira - falou o mais tímido dos dois.
- E este que se acha um Indiana Jones tupiniquim? - perguntou descontraídamente Alinne sobre o camarada de chapéu engraçado.
- Túlio - respndeu ele tocando o chapéu diante dela sarcasticamente.

Os quatro haviam marcado para se encontrar em frente a pequena igreja catolica do centor da vila de Abraão perto dos vários restaurantes e onde um palanque com música nativa ofereceriam shows. O ambiente agradável em alto nível, propício a namorados e parecia ser promissor para aqueles dois jovens se não fosse o fato de que assim que as encontrarem uma murmuração repentina que se espalhou com a força de um vento tomasse a todos no local. Alguém havia sido morto numa das cachoeiras próximas dali.
A polícia local rapidamente irrompeu em meio a eles com um quadricículo - um dos poucos veículos presentes no local fazendo com que um outro colega da UFF se aproximasse dele dizendo ter sido um dos deles.
Recém formado, Rogério teve uma tese aprovada com louvor o que sucedeu a um bom trabalho naquele campos orientado consequentemente os estagiários como seu colega Túlio.
Completamente sem jeito, Rogério e Túlio então foi ao lugar enquanto as duas jovens os seguiam. A jovem, uma estagiária, foi encontrada morta tendo seus olhhos arregalados como num súbito horror diante de uma pedra por onde a água corria. Não havia marcas de sangue, mas apenas seu corpo rígidocom os braços curvados sobre o corpo como se ao se proteger tivesse congelado de medo. Como sendo de um campus de biologia, inicialmente pensaram se tratar de rigidez pós-mortem, mas o curto periodo sugeria que a jovem aparentemente cortorceu com tanto medo seus muscúlos que foi como se tivessem travados, literalmente morta de medo. Rogério lembrou que haviam algumas espécies de cobras que literalmente se quebravam ao se retorcer defencivamente, emesmo que tal não tenha sido o caso um alto indice de stress parece ter sido a causa aparente dela morrer!

- O que poderia assusta-la de tal modo? - perguntou Túlio enquanto as duas jovens pareciam pertubadas.
- Talvez ela estivesse sob efeito de algum alucenogeno que potencializou algo que induziu-a a isto. - retrucou Rogério.

Logo, o único carro de polícia local, e o microônibus do campus pareciam neste lugar onde o festival parecia literalmente ter se transferido em torno da cachoeira tornando o infeliz incidente numa central de fofoca mórbida por crimes - se é que havia sido um - nunca ocorressem naquele lugar a salvo raras exceções, como uma turista morta por um assaltante naquela mesma cachoeira.
De fato seguindo os conhecimentos de Rogério poderia ser no máximo algo provocado por algum tipo de trote de modo a drogarem ela. Mas ao levarem o corpo contrariando a perícia Rogério tirou uma amostra de seu sangue onde no laboratório do campus constatou não haver quaisquer drogas em seu corpo, a não ser as produzidas pelo mesmo em caso de extremo stress que favoreciam a rigidez muscular sob um eminente ataque. Definitivamente aquilo os deixaram instigados. Aquele mundinho civilizado para turistas parecia subitamente, então, entregues a todo tipo de especulação do tipo que criavam os mitos e lendas como criaturas lendárias e mesmo uma certa entidade que atacavam os invasores daquele lugar. Mas nada que as autoridades dessem devida atenção, por motivos óbvios.
Alinne e Clarice - que mesmo acostumava haver crimes dos mais sórdidos, jamais havia visto nada parecido com aquilo - seguiram a uma pousada sob o tempo novamente nebuloso como prenuncio de mais um temporal de verão. Logo, a chuva, torrencial parecia lavar as pedras arás do barro que vertia abundantemente do alto das colinas numa das dezenas enseadas deste paraíso em sua época de extremos opostos. O temor de que um desmoronamento similar ao ocorrido há anos atrás levasse a pousada pareciam soar como ecos silenciosos, mas estampados nos olhos dos turistas cujos quais somente uma brincadeira eclodiu no alívio da situação de um paranaense carregado do sotaque. Mas entre os risos um estrondo surto soou fazendo estes mesmos sorrisos - inclusive a do próprio piadista empalidecer - teria sido uma trovoada ou um desmoronamento. Mas para sua triste surpresa rapidamente o chão vibrou fazendo com que estes sem dizerem quaisquer palavras saíssem do local correndo em meio à chuva quando uma enorme pedra rolando do morro arrastou metade da pousada diretamente a praia sendo seguida, obviamente por um turbilhão de lama e madeira.
Mas somente com o raiar do sol, eles teriam a dimensão do incidente que obrigou Alinne e Clarice dormirem ao relento por temerem mais desmoronamentos. Antes tivesse trazido suas barracas de camping.
Os primeiros raios solares revelaram então uma enorme clareira barrenta que subia o morro até quase o topo donde outras pedras agora descobertas pela vegetação arrastada revelaram uma entrada similar à de uma caverna.
Ao saber que havia sido aquela a pousada onde estava Alinne, imediatamente Rogério se deslocou ao lugar para lhes oferecer auxílio junto a vários estagiários da reserva biológica, quando após verificarem que fisicamente Alinne e sua colega estavam saudáveis, atraído pela curiosidade da súbita entrada revelada e sob o anúncio de um dos moradores que lá havia ido ao amanhecer sob alegações de que parecia um lugar com inscrições estes seguiram como moscas atraídas pela luz, ao lugar.
Passando com dificuldade pela lama e diversos galhos de arvores derrubadas pela enxurrada de destruição cruel, Rogério e Túlio chegaram ao local onde a abertura denunciava definitivamente uma caverna há muitos séculos coberta por algum outro deslizamento. Lá de cima o rastro de devastação era ainda mais impressionante criando como se fosse uma estrada que dava diretamente ao mar. Mas logo a luz do dia deu lugar, a escuridão da caverna apenas interrompida pelas luzes de lanternas que revelaram desenhos dos primitivos e ao fundo um esqueleto.

- Aparentemente pelo menos esta tragédia teve um lado bom, arqueológico ao menos. - falou Túlio.
- Mas um pedacinho de pré-história revelado. - completou Túlio ao lado do morador local. - Vejam estes desenhos, olhem esta criatura monstruosa, continuou ele.

O desenho revelava um ser de olhos descomunais que diante de uma aparente presa, esta caída numa posição similar a da estagiária encontrada denunciava o horror desta ao ver tal ser.

- Foram os mesmos responsáveis pelo Sambaqui? - perguntou Túlio para Rogério.

Os sambaquis eram sedimentos de vestígios deixados por povos pré-históricos ao longo de todo litoral brasileiro, os mesmos que deixavam marcas em pedras praias onde afiavam seus instrumentos de caça e pesca, muitos séculos antes de descobrirem o Brasil oficialmente. Ao caminharem ao fundo da caverna encontraram um amuleto de dentes e penas similar ao encontrados séculos atrás por Joaquim e Manuel. Túlio pegou este curioso e jogando a luz da lanterna sobre contemplou e em seguida o morador pegou.

- Creio que temos uma reportagem da National Geographic!

À noite de volta ao local do campus, sob o céu estrelado todos estagiários pareciam animados com a descoberta apenas da perda da colega de modo estranho e súbito. Túlio se divertindo colocou o apetrecho em torno do pescoço e rindo começou a dar pulos imitando a dança de um indígena.

- Sou o verdadeiro brasileiro! - gritava ele rindo.

Ao ver isto, Rogério o repreendeu, e em seguida um a pequena "festinha" acabou ali. Desanimado pela própria irreverência Túlio e outro colega foram para fora do campus onde acendeu um cigarro enquanto caminhava diante das ruínas do presídio que lá havia em Dois Rios, quando notou que repentinamente o silêncio tomou todo lugar. Não como o silêncio da noite, mas como daqueles que calavam grilos e sapos, e mesmo o vento temendo se apresentar parecia se esconder timidamente tornando não menos tímida as folhas das arvores em se debater.
Um súbito medo sentido por ele, inicialmente associado a prisão o tomou, mas recusando-se admitir a si próprio sorriu, afinal quando foram para lá, havia passado por seu "batismo" ao percorrer todas as ruínas durante a madrugada junto aos outros calouros.
Mas rapidamente sua bexiga não mentiu, e apertando ele prontamente falou como quem fosse apenas fruto da pequena sessão alcoolizada fosse "tirar a água do joelho". Mas para seu colega que rindo percebeu Túlio correr em pequenos saltinhos enquanto segurava a virilha, descarregou diante da parede do presídio quando uma respiração ouviu no local e em seguida um grunhido.
Os dois se olharam em pânicos mesmo que de suas bocas saíssem a mais pronta mentira em contradição com que demonstravam verdadeiramente.

- Vamos lá, deve ser Alex brincando lá dentro! Já passamos por este trote. - falou o colega de Túlio e os dois seguiram até a porta de entrada a abrindo silenciosamente.

Desta vez foi o colega dele que sentiu o arrepio na espinha e a vontade de urinar, o escuro e silêncio com aquela respiração diante do autodesafio deles em ver do que se tratava fez seus corações quase serem ouvidos a distância.
Para os viciados em adrenalina justamente era o único modo de se sentirem vivos, e mesmo que rendesse boas histórias no fundo o colega de Túlio sabia que com aquelas coisas não deveriam brincar. Mas lá estavam eles quando um pedregulho rolando do alto de uma das partes da ruína caiu no chão os fazendo dar um salto de medo e susto, eles riram em seguida, mas um súbito frio pelas costas vieram a eles quando os tomando ao se virar caíram ao chão em mais profundo medo gritando perdidamente na noite do lugar.
Rogério ouvindo aqui correu ao exterior do campus, mas sem nada ver, mas tão logo deram falta de Túlio e seu colega, que ao amanhecer, Rogério jurando a si próprio lhe dar uma bronca pela travessura saiu a procura-lo, apenas recebendo a notícia ofegante de um dos estagiários de que eles estavam mortos em meio às ruínas do presídio.
Muitos anos atrás, aquele lugar que havia tido presos famosos da ditadura como Leonel Brizola - que em virtude do trauma mandou demolir o lugar - se havia sediado também as fundações de uma das maiores organizações criminosas do Brasil, a Falange Vermelha, hoje mais conhecida por Comando Vermelho. E naquele mesmo lugar um jovem preso pela cruel ditadura por resistir na liberdade de expressão planejou fugir após ver a fuga cinematográfica de escadinha. Um dia chuvoso com raios que pelo constante barulho justificou a aproximação de um helicóptero que lhe jogando algo para subir o levou para longe daquela masmorra tropical. No dia seguinte jornalistas e policias da metade do Estado do Rio vagavam pelo local que pela segurança comprovadamente precária - a quem diga que os guardas foram comprados - animou alguns presos políticos a fugirem do lugar.

Passando o alvoroço da impressa e do próprio governo, o jovem tinha todo um plano que seguiu a risca aproveitando o momento de troca de guarda para fugirem utilizando-se uma chave forjada por eles e uma corda. Seguiram eles agachados assim como séculos atrás com Joaquim e seu compatriota, quando ao conseguirem pular o muro o alarme soou. Os dois correndo como loucos em direção a praia de Parnaioca sumiram no mato quando viram as luzes de lanternas e latidos caninos os procurando. Os dois riram, estavam livres como poucas vezes ficaram em sua condição civil.

- Brizola ficou de nos prestar auxílio, mas cá estamos! - falou um deles.

Nos dias atuais, Rogério impressionado com a maneira muito similar em que foram encontrado os corpos em similaridade a estagiária, começou a crer em algum tipo de crime, talvez crimes em série, o que por via das dúvidas fez as autoridades locais bloquear o local impedido que qualquer um saísse ou entrasse até que o dilema fosse resolvido, ou seja, alguns dias. Mesmo que os fatos pareciam indicar uma enorme e bizarra coincidência, que para o credo comum jamais seria. Rogério ficou abatido com tal, mas ao seguir a pousada onde ainda estava Alinne que chorou com aquilo ouviu em meio ao dialogo dos três uma moradora de idade avançada local falar de algo similar ocorrido a muitos anos quando ainda era jovem.

- Existem forças que não podemos brincar, a tempestade que se abateu foi o prenuncio do que ocorreu antes.
- A senhora diz que houve casos similares anteriormente? - perguntou Rogério.
- Perfeitamente - ela respirou fundo e começou - certa vez dois jovens presos pela ditadura fugiram do presido de Dois Rios, mas somente um conseguiu chegar a vila de Parnaioca do outro lado desta ilha, e sob profundo medo disse ter visto algo horrível e imprescindível que ele chamou de Asmofobos.
No dia seguinte, o jovem que em profundo choque se entregou revelou o corpo do colega paralisado de medo, catatônico sem um aranhão se quer. O homem disse ter encontrado um artefato de dentes e penas.
Ao ouvir aquilo, Rogério congelou assustado seria o mesmo amuleto encontrado por ele na caverna que surgiu com o desmoronamento?
Não levou algumas horas para que um grupo de legistas e peritos especializados chegasse ao local, caso raro, mas graças à notoriedade que ganhou no boca-a-boca. Estes como poucos casos não usavam faca de cozinha para dessecar os corpos, mas usando o próprio campus da UFF com um suporte bastante melhor seguiram numa autópsia chegando à mesma conclusão que a de Rogério. Mortos de medo.
Perturbado diante do amuleto, Rogério em seu íntimo se recusava em contar as associações de tal com as ocorrências no lugar para a policia, como um ser mítico, bizarro, como um demônio ter sido responsável pelas mortes. A senhora que era cristã falou umas dezenas de palavras bíblicas após contar tal história. Talvez ela estivesse apenas querendo dar um sermão de conversão.
Preocupado somente teve o fato questionado diante de Alinne e Clarice, esta última francamente ironizando tal condição por considerar demasiado absurdo, como uma cristã bastante cética. Mas à população de moradores acostumados com alguns causos insólitos parecia ter o temor amplificado como as drogas naturais do corpo produzidas pelas vítimas do que quer que fosse.
O dia estava com o céu límpido com o típico ar puro das florestas em contrapeso com a maresia do mar, mas crendo que tais casos ocorridos normalmente apenas à noite os três percorreram o mesmo trajeto a suposta caverna tendo-se a lama parcialmente seca.

- Foi aqui onde encontramos os artefatos, seja o que for. - falou Rogério para as duas - já dei a volta nesta ilha diversas vezes de barco e a pé, e nunca vi nada igual no local. Os tipos de desenhos parecem remeter aos maias e são antigos demais para ser relacionados a qualquer tipo de culto bizarro.

A altitude do lugar deveria ser de uns 200 metros, mas mesmo que com as súbitas viradas de tempo típicas do verão não justificaria o nevoeiro que descia um pouco acima deles. Uma nuvem passando baixo, deixou as duas assustadas, mesmo que particularmente Clarice estivesse mais preocupada em quebrar as unhas com o terreno de difícil acesso a pessoas com ela ao menos. Alinne, por sua vez sendo uma garota mais versátil havia feito diversos acampamentos e mesmo algumas expedições de fim de semana realizando trilhas conhecidas por montanhistas como a da pedra do sino na serra dos órgãos.
Mas igualmente com as vítimas anteriores o silêncio tomou o lugar, o vento, os pássaros e quaisquer outros ruídos os deixando em polvorosa e correndo do lugar. Ao descer Rogério não agüentou e resolveu narrar os acontecimentos para as autoridades responsáveis pelos casos, mas sendo obviamente ridicularizados.
À noite o Festival mesmo mediante o recente sítio como nos tempos antigos, seguiu tentando animar não somente os turistas como o pequeno povoado. A música animada parecia tentar convidar as pessoas a dançarem e beberem sob a noite aparentemente de céu seguro. Lá, estava o capitão da polícia ao lado dos legistas observando o momento um pouco distante do trabalho no caso. As pessoas pouco a pouco como bons brasileiros típicos esqueciam os problemas a comemorar sabe-se o que, mas repentinamente enquanto Rogério ao lado das duas garotas sentado num puxadinho de uma das pousadas se viu no balcão conversando com o simpático homem que havia comprado o lugar a pouco tempo, Daniel, um ex-policial.
Porém, o lugar viu-se num súbito blecaute que seguiu não se espalhando somente nas vilas onde os geradores a diesel ainda eram constantes. A música se silenciou, o escuro a tudo cercou assim como os corações dos mais crédulos que pareciam se divertir com aquilo. Apenas vozes esparsas falavam agora perguntando-se o que ocorreu enquanto algum eventual grito de deboche parecia ironizar a situação simulando o susto. Mas não demorou para que os gritos se tornassem reais e sinceros quando algo perpetuou sobre as pessoas que ainda se encontravam no local. Nas trevas um medo sem parâmetro parecia livre pelas sombras dominantes e logo o que deveria ser um festival de música se tornou festival do medo.
O policial gritou pedindo calma, mas as pessoas correndo e logo a seguir utilizando-se de lanternas assim como lampiões das pousadas encontraram três pessoas mortas como quem estivessem congeladas de horror. Os policiais desta vez levaram a sério, olharam para Rogério ao seu lado e sacaram as armas, mas o que lá havia não poderia ser vencido com chumbo ou fogo. Um homem que pregava começou a orar em voz alta e com a bíblia estendeu os braços, mas como se fosse para convencer ele mesmo de não sentir medo enquanto todo restante corriam para sabe-se onde.
Um ruído cercou os policiais e estes se virando de um lado a outro apontando suas armas enquanto Alinne se escondia atrás de Rogério pareceu estar os encurralando quando um dos homens atirou, mas ao ver um vulto cair notou ser apenas um turista.

- Idiota! Você atingiu um inocente - gritou o capitão - Vamos todos pra DP solicitar reforços de terra pelo gerador.

Os sujeitos correram sem saber para onde ir, Rogério os seguiu junto com Clarice e Alinne. O ruído de medo e como de um rugido baixo e constante provocava arrepios íntimos neles quando escutou o barulho de vidraças quebrando ao seu redor, quando olharam ao redor viu um dos soldados de joelhos chorando desesperado, um enorme vulto ms tornando-se visivelmente pálido surgiu quando enormes olhos se abriram diante deles, olhas avermelhados e não menos repletos de medo. Um enorme odor de enxofre exalou do lugar e o sujeito agonizando somente de ver aquilo começou a tremer e tremer caindo no chão. Os policiais apontaram as armas e atiraram, mas como se nada atingisse o ser seguiu em direção a eles, diante de Rogério quando parou diante dele que tremendo o olhou de cima a baixo como se procurasse algo. Alinne arriscou dizer - a amuleto, está com você?

- Tal apenas do outro lado da ilha - sussurrou ele sem tirar os olhos de cima do ser.

Mas estes como se entendesse o que tivesse dito olhou para trás e como num alto sumiu e a luz retornou ao local. Preocupados resolveram pegar imediatamente um veículo ao local do campus, e subindo a estrada sob o luar sacudindo sem parar viu repentinamente o vulto de alguém acenando para o veículo no meio da estrada forçando para-lo repentinamente quase o atropelando.

- Algo atacou o campus, aparentemente o medo tomou todos, nos ajude! - falou uma jovem chorando nervosamente.

O capitão pisou fundo no acelerador e ao chegar no lugar viu diversos jovens saindo correndo e gritando do lugar. Rogério entrou na frente vendo os corredores vazios quando o som de vidros novamente se ouviu, algo quebrou onde artefatos arqueológicos dos sambaquis eram levados ao entrar na sala viram aquele mesmo vulto de pé de costas, pálido e um ruído de respiração similar a de choro virou-se diante deles e o ser de grandes olhos inclinando o rosto recuou simplesmente sumindo com o amuleto nas mãos.
No dia seguinte, todos tentavam entender o que aconteceu, muitos inclusive entre os policiais como o capitão se recusando crer e relatar aquilo do ser se não um "assaltante usando de recursos de medo". Mas não era um mero devaneio, ao caminharem em torno do campus viram em meio ao mato o amuleto jogado, um dos policiais o pegaram e levaram como provas de um crime junto a outras evidências, dentro de uma caixa partindo no próximo barco em direção ao continente, deixando a ilha, mas levando o medo, rompendo a quarenta, mas espalhando a pandemia das fobias?

Muitos séculos atrás, muito antes de qualquer um ocidental ou quaisquer outros homens do outro lado do mundo, fugindo de algo inominável corriam pela floresta, sobreviventes indígenas que repletos de apetrechos e pinturas pelo corpo fugiam lastimavelmente de maccho Picchu enquanto pareciam tal apenas ecoar por suas mentes como lembranças nostálgicas de algo formidável que era tal cidade, mas arrasada por uma força maligna, medonha, cruel do qual estes sentiam mesmo os ossos tremerem de horror num frio que os atingiam o mais profundo da alma, tal que naquele momento pareciam segui-los os cercando e que os tomaram em mórbido e mortal horror, a mesma força que antes fizeram vagar, assolados por tal um lado a lado com outro pararam quando um destes homens levantando as mãos diante da selva tropical apenas cortada pelas luzes do sol e de outro lado o mar de onde vieram empunhavam suas machadinhas olhando ao lado nervosamente, enquanto transpiravam sem parar e ofegantes diante do silêncio. Súbito da floresta, mas aquele que levantou os braços como um líder tinha o mesmo amuleto de dentes e penas em suas mãos que proferindo palavras intraduzíveis gritava como se para assustar tal força que parecia rodeá-los diante do súbito silêncio, este gritava e gritava como se para cortar o silêncio e assim os efeitos deste ser, mas nada resolvia, dois dos homens caíram em medo de prantos tremendo e tremendo, se curvando até seus músculos não agüentarem mais, enquanto o único de pé vendo um filete de sangue correr dos punhos cerrado de um dos seus, foi sucumbindo gradualmente e sua voz empalidecendo à medida que o amuleto apertado em suas mãos as fez igualmente sangrar, o homem antes de cair num medo catatônico falou assombrando - Asmofobos!


Este conto é parte integrante do Livro 'Crossovers Tales' de Gerson Avillez
(Todos os Direitos Reservados) vejam outros contos clicando aqui.

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